Materiais de pintura aquarela

Na aquarela, por ser uma técnica refinada, é sempre recomendado a utilização de materiais de ótima qualidade. Existem aquarelas para profissionais, para artistas mais exigentes, cujo valor dos materiais é alto, porém tanto a tinta da aquarela quanto os demais materiais são altamente duráveis e o investimento feito será realizado esporadicamente.  Obviamente, só o gasto com papéis será maior. A aquarela não se perde depois de seca, pois a goma-arábica seca, em contato com a água, retorna ao estado original, diferente da pintura a óleo, que endurece através da oxidação gerando novos elementos químicos.

Além das tintas profissionais, outros tipos de aquarela mais accessíveis estão disponíveis no mercado, geralmente marcas chinesas e japonesas, porém seu uso não é indicado devido à péssima qualidade de seus elementos, principalmente os pigmentos, na maioria de origem sintética, e adição de cargas. Pelo preço percebemos a diferença.

Hierarquia das linhas de tintas:

Os fabricantes disponibilizam no mercado diversas linhas de uma mesma tinta, com variados preços e qualidades diferentes. Este fato se dá pela composição dos materiais, onde os mais caros são produzidos com pigmentos de melhor qualidade ou em maior quantidade, além de aglutinantes, cargas e adjuvantes mais puros e refinados. As aquarelas Talens possuem três linhas; Rembrandt, Van Gogh e ArtCreation. Rembrandt é a mais profissional, pois possui maior concentração de pigmentos e uma goma arábica mais refinada, fazendo seu custo aumentar consideravelmente. Em seguida, vem a linha Van Gogh como intermediária entre a Rembrandt e a ArtCreation, sendo esta última destinada para iniciantes e estudantes, de baixo custo. Não significa que não obtemos bons resultados com materiais de baixo custo, pois quando se exerce a criatividade não podemos impor limites; porém, em nível técnico, quando a arte é percebida do ponto de vista científico, exigindo análises de constituição, forma, resistência e compatibilidade, devemos escolher sempre os melhores materiais. Vale reforçar que, para estudantes de arte e profissionais em geral, a escolha desses materiais é decisiva na qualidade e resultado final de qualquer trabalho. Os fabricantes disponibilizam no mercado diversas linhas de tintas, com variados preços e qualidades diferentes.


Os bons fabricantes disponibilizam suas linhas de tintas com diferentes nomes, alguns em homenagem a artistas relevantes à história da arte e da própria técnica, como faz a indústria inglesa Winsor & Newton, ao nomear sua linha para estudantes como Cotman, em referência a John Sell Cotman (1782-1842), aquarelista e pintor inglês.


Aquarela Cotman, da Winsor & Newton. Fonte: WINSOR & NEWTON.COM.

Aquarelas Talens ArtCreation, Rembrandt e Van Gogh: diferentes qualidades e composição para diferentes públicos. Fonte: https://www.royaltalens.com. Acesso em: 20 jan. 2017.

A seguir, algumas marcas profissionais de aquarela, encontradas no mercado brasileiro ou analisadas no Guia Wilcox de aquarelas (WILCOX, 1991):

Tintas profissionais:

Binney & Smith (EUA), Blockx (Belgica), Da Vinci (EUA), Daler Rowney (Reino Unido), Grumbacher (EUA), Holbein (Japão), Lefranc & Bourgeois (França), Lukas 1862 (Alemanha), Hunts (USA), Maimeri – Blu (Itália), Martin/F. Webber Co. (EUA), Old Holland (Holanda), Paillard (França), Pebeo – Fragonard (França), Royal Talens – Rembrandt (Holanda), Sennelier (França), Schminke Horadam (Alemanha), Winsor & Newton/Winton (Reino Unido).

Tintas para estudantes de artes:

Lukas Aquarell Studio (Alemanha), Royal Talens – Van Gogh (Holanda), Schminke Akademie (Alemanha), Winsor & Newton/Cotman (Inglaterra).

Tintas amadoras e escolares:

não indico para serem usadas profissionalmente, pois não apresentam as especificações de tipos de pigmentos e análises de laboratório. Ex.: Faber Castell (Brasil), Guitar (Japão). Pentel (Japão), Reeves (Inglaterra), Sakura (Japão).

Vale reforçar que, para estudantes de arte e profissionais em geral, a escolha desses materiais é decisiva na qualidade e resultado final de qualquer trabalho. Não basta apenas comprar uma tinta de uma boa marca; observe a sua categoria. Os fabricantes possuem diversas linhas de produtos, sendo as mais caras as mais refinadas e as mais baratas se destinam a amadores e linhas escolares, de qualidade bem inferior. Por exemplo: a marca Talens possui as aquarelas Rembrandt e Van Gogh, onde a diferença entre elas está na qualidade dos componentes, sendo a Rembrandt mais refinada e cara. A marca inglesa Winsor & Newton possui também uma linha profissional e outra para estudantes, chamada Cotman.

Considerações sobre as tintas, de acordo com o seu pigmento:


“É apropriado que o pigmento para a pintura tenha alguns requisitos: ser uma substância finamente dividida; ser insolúvel no aglutinante com o qual se usa; ser resistente à luz; não exercer uma ação química nociva sobre o ligante, nem sobre outros pigmentos com os quais será misturado; ter um grau adequado de opacidade ou transparência; proceder de indústria confiável, que comprove suas cores, utilize matérias-primas adequadas e possa informar sobre a sua origem, qualidade, características e resistência”

Os símbolos das embalagens devem ser lidos da seguinte forma:

 º      = 0 – 10 anos de incidência de luz sob condições de museu
+      = 10 – 25 anos de incidência de luz sob condições de museu
++   = 25 – 100 anos de incidência de luz sob condições de museu
+++ = pelo menos 100 anos de incidência de luz sob condições de museu.

Os símbolos das embalagens devem ser lidos da seguinte forma:

º       = pouca resistência
«       = baixa resistência
««    = boa resistência
««« = excelente resistência

Leitura das embalagens:

Informações sobre o pigmento amarelo limão da Talens. Fonte: http://www.talens.com.

Descrição dos pigmentos – Exemplos:

PW = Pigment White PW4 – (pigment name) = zinc oxide – 77947 (pigment number); PW – White pigments; PW6 – Titanium white;      PY – Yellow pigments; PY35 – Cadmium yellow; PO – Orange pigments; PO34 – Azo orange; PR – Red pigments; PR112 – Naphthol red; PV – Violet pigments; PV19 – Quinacridone rose; PB – Blue pigments;         PB29 – Ultramarine; PG – Green pigments; PG7 – Phthalo green; PBr – Brown pigments; PBr7 – Natural umber; PBk – Black pigments; PBk11 – Oxide black.

Resistência à luminosidade:

O grau de resistência à luminosidade de uma cor indica a medida que uma cor, como substância, é danificada pela luz ultravioleta. Luz ultravioleta é um componente tanto da luz natural quanto da luz artificial. Tem a capacidade de desagregar substâncias colorantes; a cor “desaparece” com o tempo. A velocidade desse fenômeno depende da natureza da substância colorante, em combinação com a quantidade de luz ultravioleta. Algumas cores começam a desvanecerem-se após alguns dias, outros depois de muitos anos ou mesmo durar milênios. Bons fabricantes indicam nos rótulos dos produtos uma escala em símbolos para os seus produtos:

Opacidade e transparência:

Outra propriedade dos pigmentos é opacidade ou transparência. Pinte com um pigmento opaco e irá esconder o suporte trabalhado (poder de cobertura), quando aplicada em uma determinada espessura. Pinte com um pigmento mais transparente e o brilho do suporte integrará a cor obtida (a exemplo da aquarela). Nem todos os pigmentos opacos são tão opacos, e nem tão transparentes. Muitas variações são possíveis, desde muito transparente e muito opaca.  Algumas tintas são sempre opacas, como o guache, pois possuem em sua composição cargas – além dos pigmentos – que anulam a transparência, intensificando o poder de cobertura.

Granulometria do pigmento:

é a análise da forma, dimensão e textura do pigmento. Suas dimensões são medidas em mícrons e as formas se definem em esferóides, laminadas, aciculares, prismáticas, conferindo opacidade ou transparência.

HUE – Definição nas embalagens:

quando encontramos a descrição HUE nas embalagens, trata-se de cores fabricas com pigmentos que imitam a cor original de um outro pigmento. Podem ser por diversas razões, entre elas a redução de custos. Um pigmento pode ser caro e raro,e, sendo assim, sua cor pode ser imitada através de outros pigmentos de menor custo. A durabilidade da cor pode não ser afetada necessariamente. Por ser uma imitação, o fabricante deve avisar ao consumidor na própria embalagens, havendo para isso legislações específicas.

Formatos:

Bisnagas, pastilhas secas, pastilhas semi-úmidas, líquidas, lápis e bastões. Podem ser compradas em estojos ou avulsas (de preferência avulsas, assim se obtém as cores realmente desejadas). Encontramos no mercado a tinta Ecoline que se comporta como uma aquarela líquida, de cores fortes, intensas e transparentes, porém não é uma aquarela verdadeira (ver Ecoline).

Ecoline Talens: ideal para iniciantes no estudo das cores.

Paleta ideal para estudo de cores (cores primárias ou próximas):

Azuis: Prussian blue, Cerulian blue, Cobalt blue. Magenta e Vermelhos: Magenta, Cadmiun red ou Alizarin Red. Amarelos: Cadmiun yellow, Lemmon yellow. Preto: Ivory Black.

Desta forma, o estudante é induzido a racionar a relação da mistura das cores, desenvolvendo sua percepção da escala cromática. Outras cores podem ser adquiridas aos poucos, dependendo da necessidade do artista. Isto evita que o estudante compre tintas que dificilmente irá usar, gerando desperdício de material e dinheiro.

Técnicas mistas:

É um desafio propor aqui um estudo com técnicas mistas, pois a cada momento um novo artista descobre e redescobre novas maneiras de se desenhar e pintar. Na arte se pode fazer de tudo com tudo, não se importando nem mesmo com a durabilidade física da obra. O que se segue adiante são formas tradicionais de mistura de técnicas, porém abrem a possibilidade de cada indivíduo agregar novas experiências, já que as próprias vivências pessoais interferem no processo criativo.

Crie vários quadrados onde serão experimentados os seguintes materiais:

  • Aquarela com nanquim e bico-de-pena: faça uma aguada e enquanto esta seca faça traços com nanquim e bico-de-pena. Observe a quantidade de água necessária para se criar os efeitos causados, controlando assim a relação de tempo e pintura.
  • Aquarela com grafite: faça um desenho a grafite, e a seguir faça interferências com aquarela, valorizando as duas técnicas.
  • Aquarela com nanquim e pincel: use livremente o nanquim sobre as aguadas de aquarela com um pincel macio e redondo. O nanquim pode ser usado como tinta preta na aquarela, substituindo o pigmento preto original da aquarela.
  • Cera, parafina, pastel oleoso ou lápis oleoso (dermatográfico): antes de fazer a aguada, crie desenhos com cera ou parafina (vela) ou com um lápis dermatográfico branco. Em seguida faça as aguadas e perceba que onde foi desenhado aparecerá o branco devido à não fixação da tinta na cera e em materiais oleosos. É importante perceber que a própria gordura das mãos pode interferir diretamente no trabalho, intencionalmente ou não.
  • Máscaras: As máscaras são películas plásticas que são aplicadas com pincel, protegendo e preservando áreas do suporte que não serão pintadas. Coloca-se a máscara nos locais pré-estabelecidos, aguardando a secag­em antes de entrar com as tintas. Pinta-se então por cima de tudo, e logo após a secagem da aquarela, retira-se a película com os dedos ou com um objeto adequado, tomando-se cuidado em não ferir o papel.
  • Pressão com cabo de pincel ou ponta de lapiseira: com o cabo do pincel ou outro material mais duro, como uma ponta de lapiseira sem grafite, realize desenhos sobre o papel já com a aguada – e faça sulcos no papel, observando a acomodação dos pigmentos no baixo-relevo que se forma. Controlando o tempo e esperando a aguada secar um pouco mais, conseguiremos desta vez remover o pigmento de aquarela, revelando assim o suporte branco por baixo. Neste caso, é uma tarefa de extrema delicadeza onde o artista descobrirá empiricamente seu tempo certo. A qualidade do papel também é muito importante.
  • Esgrafito ou Raspagem: utilizando uma ponta seca ou estilete, podemos obter efeitos luminosos fazendo a raspagem da camada pictórica de forma a revelar o suporte.
  • Aquarela com sal: é uma técnica popular que gera efeitos muito interessantes. Primeiro se faz a aguada, e em seguida se coloca sal por cima da aguada, de forma aleatória e menos homogenia possível. Espere secar completamente e remova o sal da superfície. O efeito mineral que se vê é parecido com as formas de um mármore ou granito.
  • Lápis de cor aquarelável: bastante conhecidos, são muito úteis quando se deseja que linhas mais fortes e definidas marquem a superfícies. Eles podem ser usados junto à aquarela, com qualquer proporção de água.
  • Borrões de água: faça através de pingos de agua sobre uma aguada com cor. Deixe gotas caírem sem intervir com o pincel, deixando secar naturalmente.
  • Borrões com álcool: faça através de pingos de álcool sobre uma aguada com cor. Deixe gotas caírem sem intervir com o pincel, deixando secar naturalmente.
  • Sopro: com um canudinho, sopre uma gota de tinta de forma a criar formas orgânicas similares a galhos de árvores.
  • Esponja: Além de texturas, a capacidade de absorção de uma esponja macia promove efeitos curiosos.
  • Pastel seco, carvão e lápis secos (contés): por serem materiais que não se fixam totalmente ao suporte, exigem cuidado ao serem manipulados para que não ocorram contaminações e borrões em áreas não desejadas. Ao menor toque, o pigmento se transfere para as mãos e corpo, gerando em muitas pessoas desconforto durante o processo. Mas é por essa razão que eles se dão bem com a aquarela: eles podem ser facilmente aguados e trabalhados, podendo utilizar não só fixadores comuns, mas também a própria goma arábica vendida separadamente no mercado.
  • Objetos e colagens: Constitui-se em agregar ao desenho e à aquarela colagens em geral e objetos. Vale também para suportes com informações pré-existentes.

[1] A carga utilizada é o carbonato de cálcio, que tem como função ampliar a resistência física, aumento do volume e estabilização do PH, entre outros fatores. Fonte: Colnago, 2003.

MATERIAIS

Obs: os materiais são muito duráveis, por isso o investimento inicial pode ser mais alto, porém dilui-se com o tempo. Apenas os papéis precisam ser comprados com maior frequência.

Papéis:

  • Papel Canson Aquarela ou Montval, A3, grão-fino, 300 g/m2. Folhas avulsas ou bloco. Preço sugerido do bloco Canson aquarela A3 com 30 folhas: . Montval folha avulsa:
  • Papel Canson 220 g/m2 ou acima, cor branca, A3 ou A2. 15 folhas por aluno aproximadamente, mais papeis de reserva;
  • Folhas de papel sulfite A4 ou A3 branco (Gramatura 90g/m², preferencialmente).
  • Papel Canson Heritage ou Arches, 100% algodão. Opcional.

Tintas:

  • Aquarela profissional: cores primárias e outras (Cotman, Talens, Maimeri, etc.). Preço sugerido por tubo:
  • Guache profissional – cores primárias CMY mais preto e branco (Talens). Preço sugerido por pote.
  • Aquarela Pentel (estojo com 12 cores): caso o aluno não encontre as aquarelas profissionais, porém não é recomendada para uso profissional. Preço sugerido:

Pincéis

  • Pincéis variados, redondos sintéticos (Linha 482 – Tigre; ou similar), tamanhos 02, 08, 18, 24.
  • Preço sugerido do kit de pinceis sintéticos da China.


PINCÉIS

Pincéis podem ser divididos entre cerdas naturais e cerdas sintéticas. Os naturais são os queridinhos dos aquarelistas por serem mais macios e carregarem bastante água. Já os sintéticos, além de serem mais ecológicos, também são bem mais baratos e podem ser usados tranquilamente. Dos materiais de aquarela necessários, este é o que você menos precisa se preocupar em gastar muito.

Cerdas Naturais:

Podem ser de Pêlo de Marta, Marta Tropical,  esquilo ou Kolinsky

– Tigre (séries 308 e 309)

– Keramik “Amarradinho”

Cerdas Sintéticas:

– Cotman (série 111)

– Keramik (séries 311, 705, 110, 303, 220)

– Royal & Langnickel (série ZEN83)

Diversos:

  • Caneta nanquim 0.5 ou 0.7. Preço sugerido.
  • Lápis grafite ou lapiseira;
  • Fórmica (suporte rígido). Preço sugerido.
  • Estilete;
  • Fita crepe.
  • Régua, esquadro e compasso;
  • Godê ou pratos de porcelana para mistura de tintas, individual, na cor branca;
  • Copos para água;
  • Pano absorvente ou papel toalha;
  • Pasta para guardar os trabalhos (sem enrolar ou dobrar)